Tatuagem: discriminação estampada na pele

segunda-feira, 22 de abril de 2013


Em vários ambientes que vão do trabalho à igreja, as tatuagens, por mais bonitas que sejam, podem criar um clima de rejeição e estranheza. 


Homem Caveira                                      (Foto: reprodução)
Numa vasta diversidade de formas, cores e tamanhos, a tatuagem, com seus traços expressivos ou não, é artifício de utilização de pessoas independente de idade, credo ou classe social. Considerada para alguns como modismo e por outros um simples acessório, ela ainda é vista com maus olhos pela sociedade através de um passado marcado por preconceito e discriminação. Mesmo diante dessa conjuntura, o número de tatuados cresceu de maneira acelerada, na última década, porém mesmo na hora de encontrar um emprego e em situações do dia a dia as dificuldades persistem.

A administradora de recrutamento da empresa Seleta Consultoria - especializada na seleção e contratação de mão de obra para empresas -, Olívia Mendonça, explica que já teve casos de empresas não contratarem pessoas pela utilização de pinturas no corpo. Porém, não é a característica que eles avaliam logo na seleção “o que é mais posto em conta é a competência do candidato e não o que ele faz com o corpo dele”, afirma. Quanto maior for a empresa e o cargo almejado, as exigências são maiores, pois a tatuagem tem que ficar bem escondida e se for de tamanho grande e visível a contratação não acontece.

Caroline Leal  (Foto: arquivo pessoal)
Em termos legais, não há nenhum artigo na Constituição Federal Brasileira que disponha sobre a não contratação de uma pessoa pelo fato de ela possuir tatuagens. Por isso a advogada Caroline Leal explica que “se a pessoa se sentir discriminada, sofrendo abalo moral, pode procurar um advogado particular ou a defensoria pública para ajuizamento de ação visando à reparação do dano sofrido”, enfatiza. Ela acrescenta que qualquer tipo de discriminação não encontra amparo na legislação do país, estabelecendo o artigo 5º da constituição que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. 

Para o tatuador, Fredsson Argolo, que tem 70% do corpo tatuado, diz que já o fato de possuir várias tatuagens é uma maneira de propagar o seu trabalho. Ele diz que deixaria o seu filho fazer tatuagens, pois não vê nenhum problema. “Ele tem sete anos e quando eu pergunto se ele quer fazer tatuagens ele diz que não”, brinca.

Represália

Fredsson Argolo (Foto: Adson Santana)
De acordo com Fredsson, que é evangélico, as formas de represálias são muitas. Ele já sofreu muito preconceito e discriminação, principalmente por parte da igreja. “As pessoas quando me viam pareciam que estavam vendo um demônio”, desabafa. O tatuador complementa afirmando que nunca deixou de conseguir emprego por conta das tatuagens, inclusive já foi gerente de loja. “Mesmo com essa facilidade de emprego eu só conseguia por serem lojas de artigos visuais e de roupas para skatistas ou roqueiros. Já em outros tipos de lojas e empresas nunca consegui trabalho e já sofri discriminação e cara feia”.

O estudante Evandro Prazeres, 19 anos, que tem uma grande tatuagem na perna, diz que nunca a escondeu para ir a universidade, mas que já sofreu muitos preconceitos em seu bairro o no ônibus. “Tenho uma vizinha que fica me perguntando o motivo que eu marquei minha pele e que é uma coisa feia”, comenta. Para além dos olhares de desaprovação no ônibus, o estudante diz que no futuro emprego esconderia a tatuagem e que até em festas de empresas vai fazer questão de não aparecer.

Pinte com cuidado

O que antes era feito de forma arcaica com ossos de pontas finas, hoje a tatuagem é feita através de aparelhos elétricos com agulhas feitas de aço cirúrgico e/ou aço inoxidável que são descartados evitando assim doenças como AIDS, hepatite, tuberculose entre outras. As tintas que eram de árvores e pedras, deram lugar a pigmentos oriundos de minerais.

Por mais que a pessoa ache um desenho bonito e automaticamente queira fazer uma tatuagem, é muito importante saber onde fazer e qual o tatuador certo, pois  é bom sempre estar atento às condições de higiene do estúdio onde o trabalho é realizado, além de profissionais que dominem a arte. “É bom saber se o local tem autorização da vigilância sanitária e se o material usado está em boas condições”, fala Fredsson que complemente dizendo que sempre usa luvas e máscaras para evitar contaminações.

E o cuidado não para por aí. É importante seguir os cuidados posteriores da feitura da tatuagem, pois ela não passa de um “ferimento” na pele. No período de cicatrização é sempre bom evitar sol, praia, piscina, não ingerir alimentos como frutos do mar e evitar atritos no local tatuado.  

Adson Santana

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